14 de abril de 2010

VOLUNTARIADO: ASSOCIAÇÃO DE CATADORES

 Ae está uma das minhas grandes paixões: o desejo enorme em ajudar essa categoria de trabalhadores, pessoas humildes que encontra no que descartamos sua fonte de sobrevivência. Aqui em Conselheiro Lafaiete, sou voluntária e conselheira na Asmarcol, e como outras associações encontra diversas dificuldades no seu dia a dia, principalmente  oriundas do poder público; é uma vergonha ter que escrever isso aqui, mas a Entidade precisa urgentemente de um apoio maior e respeito pelo trabalho desenvolvido na cidade!!!
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ARede nº56.março de 2010 - No final do ano passado, o apresentador Boris Casoy precisou se desculpar publicamente depois de ter se referido aos lixeiros como “o mais baixo da escala de trabalho”. Pra lá de um preconceito flagrante, o comentário é um bom exemplo de como muitas pessoas não dão valor às questões ambientais. Muita gente ainda não se deu conta de que recolher lixo é uma atividade das mais importantes porque o resíduos descartados podem ser tratados e reciclados, em benefício da qualidade de vida e da economia das sociedades. No Brasil, o poder público também demora a avançar nesse sentido. A coleta seletiva de lixo é feita em pouco mais da metade (56,6%) dos municípios, segundo o “Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos”, com dados de 2007, publicado no final de 2009 pelo Ministério das Cidades.

Porém, existe um outro mecanismo de coleta seletiva de lixo, não oficial, mas muito mais abrangente, que atende 83% dos municípios do país: é o trabalho dos catadores de materiais recicláveis. Desses, sim, poderia-se dizer que estão em uma “baixa escala profissional”. Não pela natureza do que fazem. Mas porque a grande maioria não tem carteira assinada, não tem cadastro no INSS, não tem residência fixa, não tem idade para o trabalho, não tem alfabetização, não tem como se defender dos grandes intermediários de sucata, entre tantas outras carências.

Apesar da informalidade, já existem mais de 600 associações e cooperativas de catadores, distribuídas em 54,8% dos municípios do país. Organizados em torno do Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que reuniu mais de 3 mil pessoas, em outubro do ano passado, na Expo Catadores, esses chamados “agentes ambientais” começam a reivindicar direitos civis e melhores condições de trabalho. Pleiteiam, entre outras coisas, o acesso às novas tecnologias.

Uma das novas ferramentas que está revolucionando – para melhor – a vida dos catadores é um equipamento construído com material de sucata e que funciona com tecnologia nacional. Trata-se de um carrinho elétrico, desenvolvido em parceria entre a Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e a empresa Blest Engenharia, de Curitiba (PR). O custo de produção do carrinho gira em torno de R$ 6,8 mil. No entanto, o consórcio doou a patente ao MNCR.

Direitos Humanos
Um dos sérios problemas dos catadores de materiais recicláveis é a exploração que esses trabalhadores sofrem, por parte de atravessadores e empresários de sucata. Quem atua individualmente, sem se agregar a cooperativas, em geral presta serviços a sucateiros, que “contratam” os catadores sem garantias mínimas de seus direitos – trabalham várias horas seguidas, em péssimas condições, recebendo pouco pelo que entregam. Essa é uma das linhas de atuação do Projeto Direitos Humanos dos Catadores de Materiais Recicláveis, que também combate o trabalho infantil nos lixões, outro grande crime que caracteriza a atividade no mundo da sucata.

Exatamente para que esses intermediários não sejam os beneficiados pela tecnologia desenvolvida pela Itaipu é que o modelo do programa prevê a entrega dos carrinhos ao controle do MNCR – que fará o gerenciamento da produção e da distribuição dos carrinhos. “Os catadores irão administrar e vender esses carrinhos daqui para a frente”, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante da Expo Catadores.

“Com o carrinho tradicional, a gente levava 150 quilos e, nas subidas, puxava um peso equivalente a 500 quilos”, explica Viviane Merdig, presidente da Cooperativa dos Agentes Ambientais de Foz do Iguaçu. Com o carrinho elétrico, que tem duas baterias de caminhão, com autonomia para rodar de 4 a 5 horas, ou 25 a 30 quilômetros, é possível transportar 300 quilos de materiais, de forma mais fácil e mais ágil. “No tempo que levávamos para fazer uma viagem, hoje a gente faz duas. Os problemas de saúde diminuíram, os idosos estão felizes, não precisa parar pra descansar”, conta Viviane, que trabalha como catadora há dez anos.

Em Foz do Iguaçu, que abrigou o projeto-piloto, lançado em 2007, hoje existem 40 carrinhos em operação, de propriedade das cooperativas, que cedem para uso dos associados. Até hoje, já foram fabricados cerca de 80 carrinhos, distribuídos pelo país, mas muitos foram desativados por problemas técnicos. Só agora, na versão 4, o carrinho está totalmente desenvolvido. “Nossa preocupação foi de que o carrinho não se tornasse um elemento de exclusão de um  catador sobre o outro”, diz Jair Kotz, superintendente de Gestão Ambiental da Itaipu.

Para apoiar o sistema de distribuição, a Itaipu desenvolveu também o programa do Cadastro Nacional de Catadores, em software livre. Mais de 500 cooperativas já foram cadastradas. O cadastro, online, tem três finalidades, relata Davi Amorin, coordenador de comunicação do MNCR. Permite fazer o mapeamento georeferencial das cooperativas, o perfil socioeconômico dos catadores e o controle de distribuição dos carrinhos elétricos. No Brasil, o número de catadores cadastrados, organizados por cooperativas, associações ou grupos, chega a 40 mil. Uma proporção relativamente pequena (5%), se comparada ao contingente de trabalhadores não organizados. “Estimamos que, em todo o país, devem existir cerca de 800 mil catadores e o sistema pode nos ajudar a aumentar o atual número de associações e de trabalhadores organizados”, avaliou Amorin.

Para este ano, estão sendo criadas novas ferramentas da plataforma. Uma das novidades é o planejamento logístico. O sistema vai definir as rotas mais adequadas para otimizar a coleta, evitar a sobreposição de territórios e identificar pontos ideais para a implantação de novos galpões, por exemplo. Outra função que o MNCR espera obter do programa é o controle informatizado das quantidades de resíduos coletados e recuperados. “Estamos colocando tecnologia nacional no movimento social, para que o próprio movimento se empodere, utilize a tecnologia para usufruir da melhor forma para seu desenvolvimento, em arranjos de economia solidária, em operações de gestão do setor”, afirma Cícero Bley, superintendente de Energias Renováveis de Itaipu.

Produção descentralizada
A proposta dos carrinhos elétricos vai ganhar impulso nacional, em breve, com o apoio financeiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente do banco, Luciano Coutinho, anunciou, durante a Expo Catadores, que será aberta uma linha de crédito. Parte da compra dos carrinhos será subsidiada e outra parte, financiada, com parcelamento a longo prazo e baixos juros. Roberto Rocha, um dos coordenadores do MNCR, estima que com esses recursos sejam produzidos cerca de 20 mil carrinhos, até o final de 2010.
O projeto prevê ainda a construção de oficinas regionais. Os veículos poderão ser fabricados nos municípios, que é uma forma de baratear o custo de produção. Ficará a cargo do movimento fornecer o kit tecnológico, com bateria e motor elétrico. O MNCR também planeja criar rádios comunitárias que vão falar diretamente com os catadores, com uma programação voltada aos temas de sustentabilidade ambiental, reciclagem de resíduos, entre outros.

Rocha conta que o Movimento vai criar o Centro de Referência Tecnológica de Inclusão Produtiva, em São Paulo. “Queremos reunir as diversas tecnologias que o movimento dispõe, mas às quais os catadores não têm acesso”, diz ele. Uma dessas tecnologias é o Cata Fácil, software livre desenvolvido em parceria com a Universidade São João Del Rey, de Minas Gerais. O programa, criado há dois anos, faz a gestão de cooperativas e associações de catadores.

www.movimentodoscatadores.org.br
www.itaipu.gov.br
www.snis.gov.br
www.cempre.org.br
www.direitoshumanoscatadores.org.br

Os números do lixo

O Ministério das Cidades divulgou, em outubro de 2009, o “6º Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos”, com dados referentes ao ano de 2007. Esse estudo traz informações sobre a coleta de resíduos sólidos em 291 municípios do país, dos quais 77 têm mais de 250 mil habitantes. Essa amostragem corresponde a 54,8% da população do país, aproximadamente 83,8 milhões de pessoas. Nesse universo, em 2007, foram coletadas 29,6 toneladas de resíduos domiciliares e públicos.

O estudo revelou também que a coleta seletiva recolhe de 4,7 a 6,0 kg por habitante urbano por ano e triagem dos recicláveis recupera, em média, 3,1 kg por habitante urbano por ano (menos de 1% do total recolhido). Papel e papelão representam a maior parte do material recuperado (50,7%). Em seguida, aparecem plásticos (26,4%), metais (12,1%) e vidros (6,4%).

De todo o lixo urbano produzido no Brasil, 90% vão para aterros ou lixões. Cerca de 1,5% vão para compostagem e 8% são reciclados, segundo dados da organização não-governamental Compromisso  Empresarial para Reciclagem (Cempre 2002) . Para se ter uma idéia, na Alemanha, 50 % vão para aterros, 30% vão para incineração, com recuperação de energia, 5% vão para compostagem e 15% para reciclagem.

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